Pedra no sapato
Uma parte da imprensa teima em dizer que os movimentos sociais teriam sido amestrados durante o governo Lula. O Globo, recentemente, foi além e associou essa pretensa subordinação ? e uma hipotética ?paz? de que teria desfrutado o ex-presidente ? ao repasse de verbas federais para entidades que integram o movimento social.
Vamos analisar alguns dados em relação à CUT. Segundo o Sistema de Acompanhamento de Greves do Dieese, nossa Central realizou durante os oitos anos de Lula quase o dobro do número de greves no serviço público federal do que realizou durante o período FHC.
Incluindo funcionalismo federal e as estatais, os trabalhadores públicos da União, entre 2003 e 2010, realizaram 248 greves para pressionar o governo Lula a abrir negociações, aumentar salários e iniciar a reestruturação dos planos de cargos e carreiras. Já entre 1995 e 2002, foram 133 greves. A CUT representa 90% de todos os sindicatos do setor.
Esses dados desmentem de uma vez por todas o mito de que a CUT teria aliviado a pressão sobre Lula. Sabemos dividir o papel de uma central, de um partido, de um governo. O nosso é de defender os direitos e anseios dos trabalhadores e trabalhadoras ? o que inclui saber construir propostas, dialogar e, também, mobilizar e fazer greve quando preciso.
A diferença fundamental entre FHC e Lula, e que explica inclusive a diferença do número de greves num período e noutro, é que Lula, ex-sindicalista, fundador da CUT, sempre soube que para obter crescimento econômico e iniciar um processo de redistribuição de renda seria preciso dialogar com o movimento social. Seu governo não foi exemplar nesse quesito, tanto que muitas vezes, por exemplo, foi preciso recorrer à greve no serviço federal para que as negociações fossem realizadas.
Porém, ao considerar reivindicações como a valorização do salário mínimo e o papel do Estado como indutor do crescimento ? algo que FHC desprezou ? o período Lula ativou o crescimento da economia, gerando um cenário mais favorável a novas reivindicações. Também não houve repressões ao movimento sindical como no período anterior, cujo caso mais emblemático foi a batalha contra os grevistas da Petrobrás, em 1995 ? greve que ajudou a impedir a privatização da estatal.
Dizer que os movimentos sociais propiciaram paz para Lula é uma piada de mau gosto. Pressionamos através de greves, mobilizações e ocupações de terra (quando não ignoradas, deturpadas por grande parte da mídia). E o fizemos por acreditar que a pressão serve para avançar nas conquistas sociais.
Por fim, lembro que os repasses de verbas do governo Lula para o movimento sindical foi muito menor do que no período FHC. Este, ávido por terceirizar o serviço público, transferia verbas do FAT para que as centrais cuidassem da tarefa de recolocação profissional ? o que gerou os famosos (e enganosos) balcões de emprego. Por pressão da CUT, essa conexão foi desfeita no início do governo Lula, e a recolocação e qualificação profissional voltaram à esfera do poder público.
Artur Henrique, presidente nacional da CUT
Por: Artur Henrique